Uma rápida transformação no ambiente das mídias sociais

Uma série de artigos recentes sobre como o contexto econômico, competitivo e as mudanças de comportamento dos usuários estão desencadeando uma grande mudança no ambiente das mídias sociais:

As reflexões sobre os impactos negativos das mídias sociais e da mediação algorítmica de nosso consumo de informação amadurecem e ganham olhares mais científicos. Como nossa relação com as redes pode mudar quando houver mais consenso sobre os malefícios? - How Harmful Is Social Media?

How Harmful Is Social Media? | The New Yorker

Na edição passada, falamos sobre Jonathan Haidt, psicólogo social e professor da universidade da Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque, que é um estudioso do impacto das mídias sociais na sociedade. Aqui trazemos uma análise colaborativa feita por ele e Chris Bail, sociólogo da universidade de Duke e autor do livro “Breaking the social media prism”, de um grande número de estudos científicos em diversos campos de conhecimento sobre impactos das mídias sociais em várias frentes, da polarização à diminuição da confiança nas instituições. Para quem gosta de ler estudos (a gente adora!), o link é esse aqui.

O sucesso do TikTok com feeds não-sociais baseados em vídeos curtos empurra Meta e Instagram novamente na direção de copiar a concorrência, mas desta vez a estratégia “flopou” - Instagram rolls back some changes to app after user backlash

Instagram logo.

A migração para a exibição de videos e imagens em tela cheia e a repentina introdução de um alto volume de conteúdo vindo de contas não seguidas pelos usuários gerou muitas reclamações de usuários e influenciadores, inclusive de Kim Kardashian e Kylie Jenner, ambas entre as pessoas mais seguidas da plataforma. Ainda que seja verdade que o algoritmo do TikTok tem uma capacidade e a própria ideia do grafo social seja vista como ultrapassada em alguns círculos, podemos entender esse movimento de “seguir o líder” ao invés de privilegiar os interesses dos próprios usuários como uma decisão que pode sinalizar o “princípio do fim” da plataforma.

Mesmo o duopólio da publicidade digital já dá sinais de fragmentação com o aumento da força de entrantes como o TikTok e o crescimento da Amazon - The $300bn Google-Meta advertising duopoly is under attack

O duopólio Google-Facebook estabelecido na década passada começa a dar sinais de fragmentação.

Com a “seca” de capital com as quedas violentas das bolsas ocidentais, alguns entrantes crescendo rapidamente e a menor disponibilidade de capital de risco, o cenário econômico das plataformas também está mudando com bastante velocidade. Apostas vistas como mais arriscadas ou de retorno mais demorado como as envolvendo NFTs e Metaverso murcharam rapidamente em interesse nas últimas semanas.

Independentemente do aperto econômico, as ações da Meta perderam metade de seu valor este ano, inclusive tendo um impacto severo no net worth do fundador, o que mais além dos desafios econômicos das empresas de tecnologia sugere que o mercado não está reagindo bem aos investimentos pesados no Metaverso ou as direções propostas para o futuro das plataformas da companhia.

Uma visão mais “pé no chão” sobre o potencial do Metaverso - Airbnb CEO Brian Chesky on the Future of Crypto & Metaverse in Travel

Depois de um enorme pico, parece que o ciclo de euforia sobre o Metaverso finalmente arrefeceu. Em um assunto que desperta paixões ora pelo lado do potencial inestimável ora pelo ceticismo e pelo deja vu, é raro encontrar vozes influentes em posições mais moderadas - uma destas vozes é a de Brian Chesky, fundador e CEO do Airbnb.

Entrevistado no Skift Global Forum, um evento sobre o setor de viagens e turismo, ele diz:

  • que é seguro assumir que a internet se tornará mais imersiva e sensorial

  • que uma internet mais imersiva e tridimensional é uma boa substituição para consumo na frente de telas, não para a vida real

  • que parte das empresas que se deram melhor na pandemia digitalizaram algum aspecto do mundo físico

  • que as conexões humanas florescem melhor presencialmente e é mais fácil empatizar com o outro assim; a digitalização excessiva das relações é um risco

  • que existem oportunidades nas polaridades opostas de cada grande tendência (um ponto fundamental em tudo relacionado a análise de tendências!)

Produto contemporâneo: BeReal

As marcas, produtos e serviços que destacamos nessa seção do Rastro das Mudanças estão aqui por representarem algo que é particular ao tempo em que vivemos, mesmo que seja mais como símbolo de algo que está acontecendo do que por potencial de mercado em si - este é o caso do BeReal.

O BeReal é uma rede social fundada na ideia da espontaneidade e que se auto define como “anti influência”. Só é possível postar uma única vez por dia, dentro de uma janela de tempo curta (2 mins.) que muda diariamente e é determinada pelo app. As fotos não tem filtros ou tratamentos e são disparados usando a câmera de selfie e a traseira ao mesmo tempo - este último aspecto já foi copiado pelo próprio TikTok, chama-se TikTok Now.

Os alvos do BeReal são o “faz de conta”, a estética ensaiada, artificial e superproduzida, popularizadas no Instagram. Esse rompimento com a estética de “superprodução” parece já ter começado no TikTok e aparentemente, o BeReal está dobrando a aposta.

Apesar do selo de aprovação da Andreessen Horowitz (investimento Série A de 30 milhões de USD) e de um crescimento explosivo em 2022, com 10 milhões de usuários diários e mais de 28 milhões de downloads (dados de setembro deste ano), o BeReal ainda precisa provar em muitas frentes que é uma alternativa real às plataformas dominantes e não apenas um hype momentâneo como aconteceu com o Clubhouse, inclusive na monetização, já que os fundadores querem evitar a publicidade direcionada aos usuários como fonte de renda e ao invés disso, usar recursos pagos. Mas sua própria existência e crescimento explosivo é um sintoma de um desgaste da cultura de influência nos moldes em que funciona hoje ou pelo menos, uma sinalização de que existe público para um caminho completamente diferente.

Reply

or to participate.