Rastro das mudanças E3

Leituras interessantes dos últimos tempos

  1. Why Analytics and Consumer Insights should merge - Por que Analytics e Consumer Insights deveriam virar uma só área

  2. Instagram at 10: how sharing photos has entertained us, upset us – and changed our sense of self - Como mudaram nossos gostos, nosso comportamento e nossa forma de ver o mundo: o impacto do Instagram em 10 anos de existência

  3. New study finds 3 steps for boosting your B2B Marketing Effectiveness - Com a pandemia atrapalhando formas fundamentais de engajamento do mundo B2B, como as conferências setoriais e a prospecção presencial, as regras desse jogo estão sendo reescritas muito rapidamente

  4. Why China’s Millennials Are Targeting These Silicon Valley Brands - Mesmo na China, o maior mercado de luxo tradicional do mundo, as marcas modernas com um discurso mais progressista e sustentável estão ganhando espaço muito rapidamente, reforçando seu apelo global. Aspiração aos valores ou ao estilo de vida?

Produto contemporâneo: Emme

Aplicando a ideia da “quantificação de si” para a saúde feminina, a Emme é uma caixa inteligente para anticoncepcionais combinada a um aplicativo de monitoramento do ciclo menstrual - tudo criado em cima do insight que um número muito grande de mulheres já atrasou ou esqueceu de tomar a pílula em algum momento.

A caixa “sabe” quando a pílula foi tomada ou não e, integrada ao app, lembra as usuárias de tomar no momento certo. Pelo acompanhamento dos ciclos menstruais, o app também ajuda a prever sintomas correlatos como enxaquecas, câimbras e outros sintomas, assim como a chegada da menstruação, incentivando as usuárias a registrarem humor, sensações e hábitos.

No rastro das mudanças:- O “eu quantificado” vai para campos além da forma física e das finanças pessoais e chega na saúde de forma mais holística- Mais produtos e serviços feitos por mulheres para mulheres, endereçando questões historicamente negligenciadas- Objetos do dia a dia ficando "smart" 

Por que desk research é a melhor forma de começar qualquer processo de entendimento do consumo?

De todas as formas de se obter insights sobre clientes e mercados, o desk research ou pesquisa secundária é um dos mais subutilizados e subvalorizados. Existe uma percepção de que dados gratuitos ou amplamente disponíveis são algo de menor valor, mas o mais importante na verdade não são as informações de forma isolada, mas a exploração estratégica das conexões entre elas (o sensemaking).Além dos benefícios evidentes do uso de dados abertos ou previamente adquiridos e da ausência de custos de operação, o desk research funciona especialmente bem se triangulado com outros métodos baseados na voz do consumidor, até por poder focar tanto nos aspectos qualitativo (propostas de valor e benchmarks, aspectos semiológicos e culturais, design, tendências, etc.) e quantitativo (demografia, tamanho e crescimento de mercados, fluxo e captação de capital de risco, dados macroeconômicos e setoriais, etc.) Em trabalhos exploratórios, o desk pode nos ajudar a formular hipóteses, trabalhando sobre tendências macro, mudanças demográficas e socioeconômicas, mapeando a concorrência, espaços de mercado com mais potencial, assim como trazer referências em mercados análogos, podendo expandir o escopo para algo realmente global. Para trazer essa perspectiva multicultural e multimercados, aqui na Zeitgeist nós usamos nossos Trend Scouts, especialistas locais de diversas disciplinas presentes nos grandes centros urbanos do mundo, o que estende nosso repertório além dos idiomas que falamos e dos mercados e culturas mais familiares.Em trabalhos sobre validação de hipóteses, o desk pode ter um papel de suporte muito importante, porque alcança perspectivas que as técnicas de escuta moderada ou não moderada não conseguem, principalmente sobre contexto de mercado ou coisas difíceis de verbalizar ou imaginar. Aquela crítica famosa do Steve Jobs pode ser facilmente contornada buscando via desk conceitos a serem testados posteriormente, como ideias ou como protótipos, por exemplo, contornando a dificuldade das pessoas em verbalizar desejos e necessidades ou de imaginar soluções perfeitas. Neste momento em que muitas empresas refletem sobre o que pesquisar dentro ou fora de casa, fazer desk research fora pode ser vantajoso justamente porque parte do valor está em buscar repertório além de nosso próprio - é uma forma de “limpar nosso paladar” das referências a que já estamos acostumados. Com uma ênfase crescente no contexto e no comportamento sobre o discurso, o desk fica cada vez mais importante como ferramenta de entendimento do consumo. (TL;DR) Não gosta de textão? Resumindo em 5 pontos:    - Dados secundários abertos podem ser trabalhados em algo de qualidade alta, mas precisam de curadoria e sensemaking.    - É muito rico buscar referências em outras culturas e mercados - o distanciamento amplia a visão de todo.    - É uma chance excelente de trazer mais repertório para dentro da marca e parar de olhar a grama do vizinho.    - Traz referências que podem complementar roteiros, contorna limitações do repertório dos entrevistados.    - Refina os briefings porque ajuda a levar o contexto de mercado em consideração. 

O que o documentário “Metal - A Headbanger’s Journey” nos ensina sobre um trabalho etnográfico bem feito?

Para quem tem interesse por etnografia e pela história da música, o Headbanger’s Journey, um documentário sobre heavy metal, é uma referência imperdível. O documentário foi dirigido e escrito por Sam Dunn, um antropólogo canadense, que explorou esse gênero musical polarizante e controverso pelas lentes da cultura. Destrinchando os méritos: - A importância de começar pelo contexto histórico. Sam montou uma árvore genealógica dos gêneros e artistas que precedem e sucedem o metal, mapeando suas origens e catalogando os círculos de influência, colocando o objeto de estudo dele no centro e dando uma visão de todo muito rica para quem assiste. - A importância de identificar os padrões considerando perspectivas muito diversas. Ele conversa com fãs, artistas, jornalistas de música, produtores e cientistas buscando os elementos comuns a todas as narrativas. É sobre o contraste desses pontos comuns com as visões de especialistas que o conhecimento é construído. - A desconstrução dos estereótipos. Muito de nosso entendimento do outro (culturas e públicos diferentes de nós mesmos) chega através de estereótipos. Sam se esforça para ir além da superfície e evitar os julgamentos de valor (inclusive ao entrevistar pessoas que apoiam crimes ou violência), sempre se tomando por ignorante e assumindo o outro como diferente e não como similar. Essa postura radicalmente aberta ajuda a enxergar nuances e abraçar o contraditório.- Explorar os símbolos, ritos e valores, mesmo os não verbalizados. Sam investiga a origem e o valor dos símbolos e códigos dessa cultura, como o “malocchio” e a forma de vestir por entender que eles não só representam identidade para os indivíduos mas também comunicam, mesmo silenciosamente, que são como parte de um determinado grupo aos que são capazes de “ler” esses códigos. O valor simbólico é sempre maior do que a soma de suas partes e o consumo é cada vez mais simbólico.- Construir uma narrativa que ao mesmo tempo liga todos esses pontos e entretem. O filme foi tão bem recebido pela crítica e no meio da música que Sam Dunn foi convidado a dirigir diversos outros documentários sobre bandas e música, como o Beyond The Lighted Stage do Rush e o Flight 666 do Iron Maiden. No Hip Hop Evolution, que está no Netflix. ele foi o produtor executivo. O filme teve uma continuação chamada Global Metal onde ele explora os porquês da aderência e popularidade do metal em alguns países específicos, inclusive no Brasil. Ele também fez uma mini série para o VH1 com 12 episódios, e em cada um eles, Sam se aprofunda em um subgênero como death metal ou thrash metal. Sua forma acessível de contar histórias tocando grandes questões humanas como religião, sexualidade e morte abre um conteúdo que poderia ser de nicho a um público muito maior, e essa lição sobre como levar uma pauta cheia de nuances e tabus a uma audiência mais geral é inspiradora para qualquer um que trabalhe com entender o ser humano e suas escolhas.

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