Novos papéis, velhas dinâmicas - como se disseminam as tendências?

Serviço Contemporâneo: AIRALO

Conheça a Airalo, uma nova empresa para comprar eSIM

Já ficou caçando Wi-Fi ou sem acesso a mapas ou aplicativos de transporte em um momento crucial viajando internacionalmente? Este problema já é obsoleto graças ao Airalo, uma loja de eSIMs (chips virtuais para smartphones) que permite aos usuários comprar dados pré-pagos para usar em seus celulares enquanto viajam para o exterior em mais de 190 países. A empresa foi fundada em 2019. 

A ideia é que os viajantes possam evitar altas taxas de roaming internacional cobradas pelas operadoras de telefonia móvel em seus países de origem, e em vez disso, adquirir um eSIM local com um plano de dados para usar durante a viagem. Além disso, a plataforma oferece suporte ao cliente 24 horas por dia, sete dias por semana, para ajudar os usuários com os passos de instalação ou problemas de cobertura que possam surgir. O fundador conta nesta entrevista divertida (que começou com a observação de marinheiros!) sua jornada até chegar no desenho final do serviço.

Com isso, você consegue aterrisar em seu destino com seu chip virtual já configurado e tendo acesso a dados locais sem roaming imediatamente. Com a adoção dos eSIMs como alternativa aos chips físicos em um processo muito acelerado e a maior parte dos aparelhos mais novos serem compatíveis com a tecnologia (o próprio iPhone 14 já não aceita mais chips físicos no modelo americano), as lojinhas de chip em aeroportos e o roaming internacional de dados em breve serão coisa do passado.

Quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas: A explosão do óleo de pimenta chinês no Ocidente e uma reflexão sobre o fluxo das tendências nos dias de hoje

Temos sido coletivamente tão bombardeados por conteúdos sobre avanços tecnológicos que parece que todas as tendências de consumo emergem da tecnologia ou das mídias sociais de alguma forma, o que simplesmente não é verdade. Ainda que a tecnologia e as redes tenham um papel crescente na difusão, a originação de tendências ainda é um território estritamente humano. Para explorar essa dinâmica, vamos falar de um exemplo prático na gastronomia.

OS MODISMOS COMO MANIFESTAÇÕES DE TENDÊNCIAS - DATA POINTS QUALITATIVOS

Da pandemia para cá, cozinhar em casa ganhou uma dimensão maior na vida de muitas pessoas, tanto como por necessidade (lockdown, depois inflação em alimentos) quanto como por diversão. Neste contexto, uma forma fácil e excelente de romper com a mesmice da comida do dia a dia são os molhos e condimentos. Neste período, o óleo de pimenta chinês, em particular o Lao Gan Ma, decolou no Ocidente, e virou pauta tanto do Guardian quanto da Economist. Muito tradicionais na China, os óleos de pimenta são feitos jogando óleos vegetais quentes sobre pimentas frescas e secas, e eventualmente outros ingredientes como feijões em conserva, alho, cebolas e amendoins - estes últimos dão uma crocância particular junto às pimentas secas. Por que será que não chegou com força por aqui ainda? Vamos examinar.

Why Chili Crisp Is Good on Everything - Lao Gan Ma Spicy Chili Crisp

CONTEXTO CULTURAL É A CHAVE PARA PERMEABILIDADE A TENDÊNCIAS

No Brasil, o interesse na gastronomia asiática mais além dos onipresentes sushis, sashimis e temakis, é cada vez maior. Em parte empurrado pelo imenso soft power sul coreano via doramas e K-pop, esse interesse já trouxe para os holofotes os bibimbaps, o churrasco coreano, o gochujang, entre tantas outras especialidades, além de colocar um restaurante coreano no Brasil no Guia Michelin. Restaurantes especializados em gastronomias sem forte histórico de migração para nosso país, como a indiana, tailandesa e vietnamita vem pipocando nas grandes cidades brasileiras já há alguns anos. Mesmo especialidades diferentes dentro da culinária japonesa como lámen e os izakayas ganharam um espaço significativo nos últimos anos, saindo dos espaços frequentados pelas comunidades de descendentes e foodies e indo para distritos gastronômicos sofisticados mas mais mainstream como Leblon e Pinheiros. Todos esses sinais apontariam na direção da assimilação desse modismo.

A gastronomia chinesa, em comparação, apesar da significativa presença de imigrantes e de restaurantes no país, nunca teve esse destaque. Será que é porque foi direto para o mainstream sem nunca ter passado pelo circuito foodie porque nunca pareceu exótica ou “nova”? Será porque nosso entendimento no Brasil do que é a vasta e regionalizada gastronomia chinesa foi mais pautado pelas redes como China In Box e Lig Lig do que por restaurantes familiares ou mais autorais como aconteceu com a japonesa e recentemente a coreana?  Ou só calhou de ninguém pular na oportunidade ainda? Tem sua própria tese? Mande para nós nos comentários!

GATILHOS E ORIGENS

Esse primeiro contato com o diferente e o desconhecido é muitas vezes um gatilho de demanda em outras instâncias de consumo, e é por isso que os restaurantes são em muitos casos o ponto de origem para as tendências gastronômicas. Esse fluxo, originado na gastronomia étnica ou autoral, que passa para a gastronomia mais gourmet depois mais massificada, depois para o varejo mais sofisticado e finalmente para o varejo de massa se repete vezes o bastante para ser facilmente observável. Assistiu “O Diabo veste Prada” e lembra do monólogo da Miranda sobre o azul celeste? É parecido.

Outros condimentos igualmente intensos originados de outras culturas foram reproduzidos por marcas brasileiras como a Cepêra e são hoje facilmente encontrados em varejo de massa, tendo percorrido todo esse ciclo. Alguns exemplos são o Chipotle (pimentas defumadas ao estilo mexicano), o Sriracha e o Sweet Chili (ambos comuns no sudeste asiático).

TUDO É UM REMIX, MAS A BATIDA CONTINUA A MESMA!

Essa “pirâmide de influência” continua existindo com manifestações distintas dependendo do setor e da categoria e já são observadas desde que obras fundamentais sobre o estudo de tendências como o Tipping Point (2000) e o Anatomy Of A Trend (2007) foram publicadas, ambas escritas antes da adoção em massa dos smartphones e a explosão das mídias sociais. Em muitos casos, realmente as mídias sociais e influenciadores tem um papel maior, ora como meio de comunicação que substitui os anteriores, ora como “conectores” na definição do Malcolm Gladwell, mas ao contrário da narrativa lugar comum, estes elementos mais novos assumem papéis que já existiam antes, sem mudar a lógica de difusão, apenas deixando-a mais fragmentada. Nesse caso específico da alimentação, os foodies e às vezes os próprios chefs fazem o papel dos mavens - os entendidos e entusiastas que são os exploradores e descobridores das novidades e estes mesmos podem ser mais visíveis por suas postagens. O fluxo de antes continua se aplicando da mesma forma, acrescido das mudanças que vieram com a forma que consumimos mídia.

TENDÊNCIAS SÃO SOBRE CONTEXTO: OS SINAIS FRACOS NÃO DEVEM SER IGNORADOS, MAS PRECISAM SER EXPLORADOS NO CENÁRIO COMPETITIVO DE CADA MARCA E VALIDADOS PARA TEREM VALOR ESTRATÉGICO

Entendendo que alguns atores neste fluxo mudaram mas que a dinâmica ainda é fundamentalmente a mesma, a melhor jogada das marcas está em se aprofundar no contexto, ou seja, entender mais a fundo como o novo afeta os mercados e públicos que atua. A maioria infelizmente acaba ilhada entre o macro (só enxergar as macrotendências e grandes vetores, que no geral está todo mundo vendo) e o micro (olhar só novidades e modismos e tentar ser a mais rápida a seguir) por achar que os relatório generalistas e o me-too bastam.

Reply

or to participate.